Slovodan Novak,, 2011, 02:34, Belgrado, Sérvia...
Era eu criança e Sarajevo ardia em fogo bravo
militares corriam assustados para ficarem a salvo
bombas batiam nas casas com barulhos assombrosos
pensava para mim, "Qual o porque para estes homens tão invejosos?"
roubam a liberdade ao povo para seu próprio interesse
agressões eram diárias fizesse sol, neve ou chovesse
de arma em punho vigiavam fosse esquina ou avenida
era este o Apocalipse para o qual a Jugoslávia não estava prevenida
surda dor que vagueava nas artérias desta cidade
centenas de jovens a quem lhes foi arrancada a mocidade
eu, bem eu, dormia num orfanato a cair de velho e gasto
nos seus corredores corria um pesado trago a algo nefasto
eram centenas de pequenas almas lá amontoadas
enquanto as as ruas permaneciam ensanguentadas
Milosevic cuspia terror em palavras de violência
um país inteiro foi dizimado com a sua total complacência
monstro político sem qualquer pitada de humanismo
usava homens e mulheres para obter protagonismo
eu? Cresci assustado numa redoma de vidro escuro
sem saber se tinha presente para poder sonhar com o futuro
durante anos foram múltiplas as ofensas à dignidade humana
cometidas por este demónio que ostentava uma mente insana
toda a Europa acordou em sobressalto quando soube a verdade
à velocidade de cruzeiro marcharam para matar esta calamidade
mas quando chegaram já eram cadáveres a decoração persistente
ossos, sangue, balas, escombros, destroços e horror na cara da gente
hipócritas da Europa central acentuaram ainda mais o sofrimento
excessiva lentidão na pedida justiça para com o parlamento
foi mais uma década de uma poeira doentia a pairar sobre os Balcãs
e milhares de pessoas cansadas e fartas de conversas vãs
quando finalmente tudo se resolveu, foram precisos anos para reabilitação
muita gente morreu ao tentar entrar no caminho da salvação
passo a passo, levemente, a recuperação foi-se processando
era como um deserto infernal que de nós se ia apoderando...
Agora, passados 11 anos
ainda sinto em mim, parte dos danos
a dor embate forte no meu ser
parece que vejo uma mãe a sofrer
o seu filho a morrer-lhe nos braços
limpeza étnica que devastou este território
onde o bem estar era vão e ilusório...
A guerra na antiga Jugoslávia matou mais de 100 mil pessoas, desbaratando um território de forma cruel e demoníaca por questões anti-semitas.
Recolhi da minha mente este testemunho deste jovem que viveu de perto este flagelo e negro drama, vendo parte da família sucumbir à terrível fome de guerra e ódio do sórdido Slobodan Milosevic.
Até um dia,
Rui Castro.