Apresentação

Ser humano é medo, é fragilidade, lágrimas e sangue...
sofrimento, agonia, angústia e lamento sem fim...
a mim, a ti, a nós, o medo atacará até perder a voz..
vocês não acreditam...
enquanto isso..
ele age silenciosamente ...

Somos alimentados por medo!

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Serra!

Sentado no penhasco, olho para a lagoa
tento dissecar algo que me magoa
sinto asco de quem me tenta travar
neste jogo onde só quero ganhar
barras sem fim eclodem na minha cabeça
mente fervilha como lava acesa
tento dissuadir-me a lutar por ela
ela que é tanto má e tanto bela
mas que traz inferno e confusão
mas também amor e ilusão
não tenho bola de cristal
para antever o crucial
fazer previsões tão precisas
como decisões e premissas
vagabundeio pelos trilhos desta serra
calcorreio e sinto o cheiro desta terra
das árvores e das folhas verdes e viçosas
sinto frio gélido em correntes de ar nervosas
ao fundo ouço o barulho de um corvo
neste cenário natural sinto-me um estorvo
acaricio um pinheiro e fico em transe
a minha conexão com a natureza já parece romance!

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

O Cientista!

Um cientista louco deambula no seu laboratório
enlouquecido pelas recentes experiências
confundindo o material com o ilusório
quando recorda as suas más vivências
mistura químicos entre si em constante transe
psicadélico como as luzes desta sala
em cada frase coloca doentio ênfase
cheiro é nauseabundo e nojento nesta ala
aberrações adornam a decoração das paredes
sujas de sangue e pedaços de tecido adiposo
pregados lá tem cabeças de burro e peixes na rede
cenário dantesco teste intelectual horroroso
...sinto medo!
Da paixão escura deste homem
de magia e ciência numa mescla
tentava pela frincha da mente olhar mais além
mas o cientista louco tocava sempre a mesma tecla
invenções que não lembram ao diabos
diabruras próprias de quem não regula
...noite e dia este homem faz fantasias
heresias e maluqueiras da pior espécie..
frigorífico com prateleiras sujas e vazias
livros e revistas anunciando a intempérie
.... vinda do glaciar que degela ao ritmo da musica
que se ouve no seu rádio envelhecido.
que transmite uma ressonância acústica.
para este ouvido de tanto barulho ressequido ...
...fecha-se a persiana ...
o gato anoréctico desfila na sala
a mente torna-se profana...
enviam-se experiências falhadas para uma vala...

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Aeris: A Rainha do amor!

Era uma vez uma história escrita com o sangue de quem a vive, forjada das furnas incandescentes das catacumbas do mundo.

Nas terras inóspitas do Golfo Pérsico, um homem trabalha de sol a sol, envolto numa escravidão desumana que esgota as potencialidades e reservas de energia do corpo. Esse homem chama-se Chamah, libanês de origem foi  comprado em troca de camelos para erguer o palácio real do sheik do Golfo Pérsico, Abdel. Durante 1 ano trabalhou só com direito a água e pão, totalmente racionalizados entre ele e os cerca de 200 escravos que labutavam chicoteados por capatazes insensíveis e viscerais, não tolerando qualquer veleidade ou contemporização no trabalho. Durante o dia de folga que tinham quando os capatazes assim o entendiam, Chamah, aproveitou para passear na capital da Arábia Saudita, Riade. A Arábia Saudita é um dos países que integra o Golfo. Naquelas ruas tão movimentadas, Chamah, homem reservado, de tez morena, olhos esverdeados, cabelo despenteado e uma magreza que impressionava só de olhar, sentia-se um moribundo, deambulando por entre aquelas tendas de mil e uma vendas, desde galinhas, legumes, bugigangas, artesanato rural e camelos e afins, numa barulheira ensurdecedora que enchia a sua cabeça de dores entre regates e discussões intermináveis. Ao dobrar uma esquina, Chamah, como se de uma aparição se tratasse vê de relance uma menina lindíssima, morena, de longos caracóis acastanhados, lábios carnudos e uma sensualidade corporal que enfeitiçava tudo e todos com o seu jeito de menina rebelde, traquinice e inocência num cocktail que despertava as emoções mais arrebatadoras em Chamah. Chamah correu em sua direcção enfeitiçado pela magia rebelde que esta jovem emanava, Aeris era o seu nome, Chamah corria, corria e quando finalmente alcançou Aeris, seus olhares tocaram-se, como uma alquimia efervescente que derretia os seus corações. Ficaram paralisados, estáticos, durante meia hora. Chamah desbloqueou o gelo entre os dois dizendo " Aeris, és .... linda!", seus olhos brilharam como diamantes puros, a circulação sanguínea aumentou de velocidade vertiginosamente, explosão de sentimentos em forma de palavras, Aeris soltou um " obrigado.." tímido e fugiu...

Chamah foi de coração partido para a sua casa, onde pernoitava para depois às 7 horas da manha ir trabalhar na construção do palácio do Sheik Saudita, desumano encargo que foi obrigado a aceitar sob pena de ser degolado. Numa tarde de intensíssimo labor, o suor escorria vertical na face de Chamah, as mãos tremiam de sofrimento e desgaste. Num instante, os olhos de Chamah quase se extasiam de surpresa, quando viu Aeris com o traje de esposa do Sheik, a rapariga fascinante que tinha visto nas ruas pérfidas de Riade na sua folga, aquela beleza exótica e que cegava o mais vistoso olho, era nada mais nada menos do que a esposa do poderoso e omnipotente Sheik,  Chamah foi para casa com as lágrimas dançando nos seus traços faciais, tal era a decepção e tristeza que invadia ferozmente o coração desolado destes libanês amargurado.
Chamah revolveu-se em teorias, envolveu-se em esquemas megalómanos para voltar a falar com a sua musa, mas tal realidade era utópica dada a importância quase absoluta de Aeris, dona e senhora do coração do tirano Sheik.
Chamah traçou um plano que pela sua constituição era, e utilizo aqui um eufemismo, suicida! Consistia no facto de raptar Aeris e confessar olhos nos olhos a sua paixão, fugindo com ela para o Líbano..
Mas... como passar pela disciplinada, eficaz e sangrenta força de segurança privada de sua alteza?
Num dia tristonho, céu encoberto e uma humidade brutal, um calor abafado que dificultava a respiração, Chamah, vestiu-se de mendigo e passou despercebido à segurança, infiltrando-se nos aposentos do palácio, deparou-se com Aeris, era o momento ideal, Sheik estava fora em negócios, Chamah foi pé ante pé, silencioso como um gato, atento como uma raposa, e ao entrar no quarto de Aeris, despiu o disfarce e Aeris ficou petrificada,  reconheceu os verdes olhos que a encantaram naquele fortuito encontro numa esquina na baixa de Riade.
Chamah perdeu a vergonha e desafiou Aeris para fugir consigo para o Líbano, Aeris num esgar de felicidade, sorriu e pegou no que tinha perto de si, roupas, acessórios, valores entre outros artefactos, e com Chamah devidamente disfarçado saíram por uma porta secreta, só conhecida pelos altos cargos do poder. Fugiram a passo largo, ainda deslumbrados por esta paixão louca. Num laivo de sinceridade Aeris confessou que era libanesa de nascimento, mas foi seduzida pelo Sheik, aquando menor de idade sob promessa de que viveria num paraíso de alegria, amor e solidariedade, mas cedo percebeu que era tudo parte de uma densa fachada onde só a imagem de perfeição amorosa e social importava perante os súbditos . Chegado o Sheik ao palácio que estava no final da sua construção, dá pela falta de vulto de Aeris, uma beleza tão marcante não passa despercebida, perguntou aos capatazes, empregados, escravos e ninguém sabia de Aeris. Surpreso e atónico ficou quando um dos capatazes informou que Chamah teria desaparecido no mesmo espaço de tempo que a esbelta Aeris. Sheik cegou de raiva e fúria, incendiou de cólera, ordenou um exército de mercenários pagos a peso de ouro, para descobrirem Aeris e Chamah.

Estes estavam já a ultrapassar a fronteira para o Líbano, quando numa emboscada, são interpelados por mercenários sauditas mandatados pelo Sheik. Estavam numa situação de risco máximo, mas Aeris tentou ludibriar os mercenários, dizendo que não fugira, tratava-se apenas de um retiro com o seu irmão, (ajudou o facto de Chamah ser igualmente libanês) para perto da sua família, visitando seus entes queridos, que já não via à mais de quatro anos. Dado poder persuasivo de Aeris, mercenários foram dissuadidos, continuando a busca por outro lado, enquanto o casal fugitivo já se encontrava dentro do país de nascimento.
As juras eram eternas, cupido tinha atirado a flecha mais aguçada de amor e união neste casal com tantas diferenças sociais, uma diferença abissal que o amor ajudava a diluir em si mesmo.

Foram passando horas, dias, semanas, meses e nenhum sinal tanto de Aeris como de Chamah, Sheik gastou rios de dinheiro, quantias incalculáveis na busca dos dois. Fazendo autênticos banhos de sangue nas comunidades libanesas situadas na Arábia Saudita, desesperado e toldado pela traição da esposa e do escravo, fazendo-o pagar por anos e anos de tirania sem dó nem piedade, tratando seus empregados como a mais reles coisa à face deste mundo. Aeris quando chegou ao Líbano, escreveu um papiro, com uma curta mensagem para o Sheik.

Que dizia : " Abdel, estou no Líbano, fugi da tua cegueira pela fortuna, da frieza do teu coração, da falta de sabor dos teus lábios, do vazio das tuas palavras e do sangue dos teus actos, quero ser livre, amada, respeitada, valorizada e não um objecto estático cuja única utilização era fazer boa companhia e subir o ego da tua imagem perante o teu povo, amor não são rubis, safiras, esmeraldas, ouro ou prata, Não! Amor é carinho, valor, partilha e coexistência. Não me procures... Aeris"

Chamah arranjou um rapaz para levar a mensagem até ao palácio do Sheik, passado 3 dias e 3 noites lá chegou, deixou a mensagem num dos capatazes e saiu fugindo, velocíssimo, não fosse ficar lá a trabalhar naquela podre e abominável escravidão! Quando Abdel, o Sheik leu a carta redigida por Aeris, sua pele esbranquiçou, a tez ficou pálida, lívida, sem expressão, numa quase paralisia corporal, soltando depois berros hediondos contra Aeris e Chamah..
Enlouqueceu num ápice, torturou todos os libaneses que encontrava no seu burgo, tentava sacar informações à força, mas maioria deles sucumbia por falta delas, dada a sorrateira forma como fugiram a ex-amada e o ex-escravo deste poderoso mas transtornado homem. Durante anos espalhou pela cidade uma onda de carnificina totalmente horrorosa, mas sem efeitos práticos, visto que Aeris e Chamah já estavam estabelecidos no Líbano.

Passados 4 anos, Sheik deu os primeiros e sérios sinais de doença crónica, esquizofrenia, que lhe causava bastantes problemas e aliada e outras complicações do foro físico lhe incapacitavam em muito a sua total disponibilidade de governar a seu bel-prazer, já se apoiava nos assessores, conselheiros, alguns de duvidosa confiança e passado nem um mês, o Sheik faleceu, vítima de paragem cardíaca provocada por uma arritmia que lhe alterou e acelerou o batimento cardíaco. A notícia correu que nem uma flecha, atravessou fronteiras, chegando até o Líbano, onde Chamah e Aeris viviam já totalmente em paz, nascidos dois filhos, uma menina e um menino. Chamah ao saber, informou a mulher, que gostaria de assumir o trono, dado que Aeris ainda conservava em si o rótulo de rainha, fugida, mas rainha! Puseram pés ao caminho, dias e noites de travessia no deserto, até chegarem ao palácio majestoso, totalmente completo, edificado sobre a zona mais magnífica da inusitada e mítica Riade.  Aeris entrou no palácio, retirou o disfarce e gritou bem alto :

" Neste momento, acabou a escravidão, sofrimento, desolação e sobrevivência. Eu, Rainha Aeris de Riade, proclamo Rei Chamah meu esposo e juntos criaremos uma ordem de solidariedade, ajuda, interacção entre cada elemento da hierarquia saudita. Os tempos negros e densamente povoados de dúvidas, medos e angústias do reinado de Abdel, Sheik e senhor destas terras durante 3 décadas. A quem me procurou e matou para me encontrar, cá estou eu, senhora e dona de Riade!"

Estupefacção!! Foi como um golpe do destino, de duas pessoas que num relance atearam um amor que queimou barreiras e fronteiras, furando dogmas e preconceitos de estatuto social, acabando com décadas a fio de dor, tortura, fome e violação dos direitos humanos, para dar entrar a uma nova era, à era da compreensão, da entreajuda ! As tropas aliadas ao Sheik Abdel, tentaram chacinar Aeris durante anos, esvaziando recursos e esgotando reservas de armas e ouro, estando falidas e sem armamento, jogando com o medo que impuseram na população!O que restava de dinheiro foi usado para salvar o povo da fome e da peste que se abatia sobre si, evitando milhares de mortes, numa tragédia que iria roçar o bélico.

Aeris tornou-se heroína do País! Chamah um quase Deus, que apareceu qual profeta e devolveu a alegria e esperança aos descrentes que deambulavam quase em espectros pelas vielas desta capital!É esta a história de um amor clandestino, que como um maremoto varreu poder, estatuto e medo, para vencer e o querer e  a paixão trouxe a eloquência de que são feitas as grandes histórias!

Quando há paixão de verdade , o amor vence!


Não pensem que isto fica por aqui..

Continua.....

Aguardem...


quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Numa lagoa.

Na tristeza de um olhar decifro a mágoa
as lágrimas derramadas na margem de uma lagoa
desagua numa foz paradisíaca e sem fim
onde só a alma tem valor nem ouro nem marfim
esqueço tudo o que me faz mal
relembro as vitórias e conquistas no temporal
o ego sobe ponderado e sem velocidade
não tenho a chama da minha mocidade
junto-me aos meus amigos
novos e mais antigos
e lembro o sorriso dos que estão no jazigo
escrevo poemas sobre celeumas
problemas e esquemas que vejo nesta
terra cheias de rosas e açucenas...
não quero fama nem luzes nem entrevistas
quero abraços sinceros e fortes
...  apenas ...

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Literalmente

Literalmente a mente é permanente
normalmente leio um livro, poesia ou romance
balanço na cadeira tanta é a explosão de sentimentos
sem lamentos, só sinto o quão é grande a dádiva de
viver num mundo de letras, para continuar a sê-lo
eu até dava a vida..
Punha a vida em cheque mas sem preço
apreço tenho pela cultura e nela permaneço
de forma prevenida.
madrugada fora faço poemas e histórias
relembro problemas e memórias do fundo
do baú, não tenho pudor na alma porque
o meu espírito está nu
como veio ao mundo,deixei de ser imundo
envolto em psicose..
busco a gnose num périplo sem fim
dou cem voltas sem fim ao fundo do meu
coração...
em busca da eterna ascensão
até ao conhecimento interior e coexistência
perfeita, equilíbrio entre corpo e alma...



sábado, 18 de fevereiro de 2012

Apocalipse!

Druidas evocam maldições 
prendem bestas em profundos alçapões
caixões são quartos para vampiros
assassinos em rituais e dizeres satíricos
empírico pensamento flui na minha caneta
fechado nas catacumbas sem água ou luz
a escuridão me seduz sem qualquer mágoa
numa aguarela renascentista tento pintar
o futuro do planeta...
toca a bombo que assinala o início 
da guerra entre homens e mutantes...
protestantes invadem mesquitas e igrejas
sedentos de vingança,...
Invejas cegam a consciência da sociedade
de tochas na mão incendeiam florestas e 
castelos...
violoncelos são a banda sonora da 
hecatombe que se avizinha..
corvos pairam no céu inquietos e 
amedrontados ...
fechem-se em casa, apaguem a luz
tapem as janelas...
acendam apenas velas...
vão ser lançados os dados!

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Metáfora intensa!

Degrau a degrau...
devagarinho sem pressas
com esperança às remessas ..
neste mundo nem tudo é mau..
curto até não poder com a minha gente..
que me apoia nesta luta pelo meu sonho
tristonho ando quando desacredito
mas com o vosso carinho sou duro
como o granito que reveste o meu corpo
filantropo com quem amo de verdade
covarde quem tenta matar a minha
ambição que coage irmãmente com a
humildade que carrego no meio leito..
.... distribuo cultura nas diversas vertentes
cerro os dentes lutando por aquilo
que entendo merecer por legitimidade...
acordado até altas horas redigindo
o dia a dia do inferno ....
interno circuito que corre intenso
no meu organismo...
metabolismo em forma de palavras
custo vocábulos incandescentes com
metáforas macabras!

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Eu sou!

Eu sou..
Vulto assombroso que te persegue
que se ergue perante a tua arrogância
preponderância no teu estado anímico
psíquico temor que floresce como rosas..

Eu sou...
Besta enjaulada que anseia a morte
sorte negra que te sai na tua carta
farta ceia de ilusões e reacções nervosas
ataco o teu flanco com demónios de grande porte..

Eu sou...
Leopardo amaldiçoado que trepa até ao eterno
aceno à desgraça em tom de ironia
luz que alumia enquanto bebo da taça o elixir da vida
sina lida numa sessão de quiromancia

Eu sou..
Constituição física do demónio
idóneo escritor que narra o Apocalipse
soldado contra acéfalos que me barram as soluções
turbilhão de emoções que diluem ideais supérfluos!

Se...

Se tenho talento? Há quem diga
isto irriga o meu ser
pondo-o a ferver numa erupção doida
fluída ânsia de subir até ao trono
sinto-me perdido num espaço amplo
como um cachorro sem dono
tento redefinir o meu caminho
titubeante por vezes até encontrar
quem me dê carinho
atenção, simpatia, amor e alegria
e me faça sair de vez desta letargia
me faça abrir horizontes e rasgar barreiras
saltar eiras e cumprir o meu desígnio
abraçar a liberdade de espírito e viver
a vida num livre escrutínio
sem amarras ou algemas de culpas
sem preconceitos ou multas
quero ser livre e viver com asas como
um anjo alado
sou a luz da esperança neste mundo
assombrado!

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Realidade

Conteúdo explícito, ilícito
nas minhas rimas implícito, sempre real
meu irmão, não me dou com material
fictício, apoio fundamental da minha gente
que me é crucial, sempre vertical na abordagem
de margem a margem sem pensar na vertigem
clivagem desnecessária, tento reagrupar as tropas
num gesto subtil, topas? Não gosto de grandes
alaridos, prefiro fechar-me em copas.
Comício de ideias em alcateias de lobos
famintos, pensamentos sucintos eu pinto
na tela onde sinto chamamento da viela
onde caminho titubeante apenas alumiado
por uma vela...Tenho medo!
Do degredo que envolve esta aldeia
em segredo, homens e mulheres giram
como peões sem rota em busca de algum
emprego, bocas para alimentar já passaram
as duas unidades em casa, vaza a maré de
soluções e posses monetárias, as implicações
são várias, gripes e tosses afectam os pequenos,
mas à muito que já foram os anéis e
fracos já são os dedos, resta o veneno que
escorre fluído na veia de tanto vulto, oculto
ligação directa da rua para o sepulcro...

Volta

Volta!
Como se nunca tivesses ido
Revolta quando sinto que te perdi
Revolvi em mim o amor que pensava extinto
Volta!
Vício que me prende como algemas em
forma de sentimento
Quero voltar a passar por essa porta
Encontrar o teu sorriso e relembrar
O sabor exótico dos teus lábios
Abraça-me com a força do destino
Que eu farei de ti feliz como sonhei
Em pequenino!

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Desliguei..

Desliguei a maquina que me mantinha vivo
esgotado de ser esfaqueado por este anjo altivo
neste mundo cínico onde me sinto um deslocado
num passeio pela rua só vejo escombros e descalabro
numa hecatombe brutal que só agora saiu do armário
endividados de tal forma que até a morte tem tarifário
pessoas roubam para comer e alimentar suas crias
que choram de fome de olhos vãos e barrigas vazias
armas são usadas como se fossem objectos inofensivos
putos de treze e catorze anos já são caçadores furtivos
nas vielas deste bairro onde não à luz nem água potável
a dor na alma é gigantesca e o ódio é renovável
como uma reciclada fonte de mau olhado e desespero
adultos pré-fabricados alimentados a droga e medo
suspiro durante minutos sem fim por uma revolução nas ruas
onde se vendem narcóticos ao acessível preço da chuva
que me molha enquanto visiono a mortificação de amigos meus
coerentes toda a vida onde sempre fizeram papel de réus
recolho-me aos aposentos totalmente encharcado em dúvidas
mas afastado por agora destas sombrias ruas dúbias..

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Noites

Saídas à noite, amigos e luzes
sessões descontraídas, não quero que abuses
espírito uno até ao nascer do sol...
ajuda e apoio, toda a noite em nossa prol
silhuetas e decotes colorem a pista..
apelo garrido para a mais inocente vista
colateral efeito que eclipsa a tua sanidade
profundidade reduzida de pensamento, lentidão
alcoolizado, o discurso é caótico
hipnótico bloqueio no organismo afogado
de cerveja, inveja é o sangue que irriga a noite
desde rapazes e raparigas, represálias antigas..
limitações que encurtam a visão, preconceitos..
respeito e educação estão gastos...
agora é só frascos de pó e tinta
distinta era, dispare daquela onde havia pureza
a chama estava acesa, apagou-se com a brisa da mentira
o que antes era safira agora é lata...
lembro-me dessa gente tão expansiva,
agora só vejo uma sociedade compacta!

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Renascido

Renascido do inferno
religuei o circuito interno
de consciência e sapiência
reergui a apetência para tornar
vocábulos numa fórmula alquimica
empírica espécie de poesia que ilumina
a tua viela, tão misteriosa e tão bela
aguarela pintada de vermelho
num traço de sangue e sofrimento
lamento e angustia como uma
cidade tombada...

Vejo homens na lama da gula
como no inferno de Dante
enjaulados na sua culpa que
engole a sua alma, com calma
o diabo tritura as suas vítimas
sugando até ao tutano a substância
inata ânsia de possuir o espírito,
fujo sem olhar para trás,
ao fundo ouço uma rouca voz
tenho cuidado! Não vou na cantiga
Satanás é astuto e veloz!


domingo, 5 de fevereiro de 2012

Branca de neve os sete malefícios!

Não te escondas atrás da roupa ou da vida de galã
há muito mais para lutar para ter um melhor amanha
ter educação, coração ou casa e pão na mesa
é bem mais necessário, disso dou-te a certeza
tentar crescer como pessoa ou profissional em qualquer área
faz de ti melhor pessoa sem uma vida arbitrária
ama a tua mulher e o teus filhos sorridentes e belos
sem divisões ridículas, como partículas, estão juntos como elos
brincadeiras na praia ou na montanha sem tristezas
a felicidade embarga o espírito sem vertigem até as profundezas
o sorriso rasga-te a face e olhos brilham como diamantes
agora pensas saudoso da pureza que sentias dantes
agora é só luzes, bebidas e branca de neve com fartura
para os seus sete anões a vida é sol de pouca dura
a tua casa que julgavas um palácio, agora é um pardieiro
sem comida, sem água, apenas droga e insanidade o dia inteiro
dinheiro transformou-se em miragem num instante
e a ligação com mulher e filhotes foi-se tornando distante
faleceste numa vala com as narinas empoeiradas
olhar vago, pele pálida e pupilas dilatadas
amargo fim para um ser tão criativo e entusiasta
preso na jaula desta substância tão nefasta!

Placenta

Cresci dentro de uma placenta
cheia de licor de magia
bebi de lá insaciável num gole
interminável, bule efervescente repleto
de feitiço saudável.
Dou vida a versos que narram
a morte de outrem,
ensaiam formas de tortura
o odor a cadáver perdura neste
pátio onde estão inscritas
as rábulas paranormais numa
gravura.
Eclipse lunar atrai os lobos e os
corvos, movimentações nocturnas,
ilusões diurnas, ensumação de corpos
em cruzes e furnas, decanto pensamento
em metros cúbicos, os prazeres
da poesia são únicos
Purgatório alquímico
degola o estado anímico e
entorpece o lado físico..
recolho aos aposentos fechado
em mim mesmo, alienado
da realidade bélica, psicadélica
sem ética, poética essência assenta
na alma humana, tantas vezes profana,
neste salão de fantasmas e esqueletos
não existe sorrisos ou amor e uma cabana!