Apresentação

Ser humano é medo, é fragilidade, lágrimas e sangue...
sofrimento, agonia, angústia e lamento sem fim...
a mim, a ti, a nós, o medo atacará até perder a voz..
vocês não acreditam...
enquanto isso..
ele age silenciosamente ...

Somos alimentados por medo!

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Obsessão

Num quarto escuro, fechado, silencioso
só iluminado por um candeeiro duvidoso
vive um escriba viciado em criar poesia
meditar nas asas dum dragão na fantasia
só sai durante a noite para viver a vida mundana
para sorver o que mais podre há da essência humana
e transforma-a em rimas benéficas e medicinais
por instinto ou por consciência sabia ler os sinais
os seus amigos era raro ver durante meses a fio
sempre fiel à rotina esteja sol, neve ou frio
vivia no meio de canetas, papéis e dicionários
livros e livros sobre os maiores revolucionários
só se fazia acompanhar de café para se manter acordado
quando saia à rua a luz fazia transparecer a sua cara de assustado
olheiras enormes coloriam a sua pele envelhecida
mas por dentro de si habitava uma mente estimulada e guarnecida
guardava os seus escritos religiosamente numa gaveta refundida
mal se via por causa da lâmpada do quarto estar  fundida
a sua mãe doméstica de profissão vivia na preocupação
sem saber em ponto estava a decorrer a sua evolução
a degradação do seu filho era cada vez maior
sem saber que ele voava ao escrever nas asas de um condor
sem patrocínio só paixão selvagem e sem barreiras
a escrita não tem limites quando o autor não tem fronteiras

........
Passados 2 anos...


Este rapaz começou a divulgar as suas obras
poesia de paz e amor sem rancor ou cobras
sem pensar no sucesso ou vantagem monetária
para ele partilhar cultura era questão humanitária
mas a sua praia era o seu predilecto quarto mágico
lá montava defesas para evitar qualquer desfecho trágico
à média luz iluminando apenas uma folha branca
avizinhava-se uma torrente de sabedoria franca
arrobas de versos decoravam este papel cavalinho
fazia tanto uns assombrosos como outros com carinho
panóplia exacerbada de metáforas e paisagens mentais
mas a verdade e a humildade eram pontos fundamentais
o seu sucesso cresceu de forma gradual e proeminente 
e o seu vicio cada vez se tornava mais impertinente
engolia-o numa rotina puramente artística e literária 
reduzindo o espaço já ínfimo para uma vida mais arbitrária 
como um monge vivia em exclusivo para uma só causa
a mil à hora num destino egocêntrico sem qualquer pausa


passados 6 meses
......

O seu corpo estava magro, frágil e sem defesas
eram vários os maços de tabaco e filtros de canetas nas suas mesas
afastado das lides sociais e sem real percepção do seu sucesso
a sua exaustiva dedicação à escrita deixava o seu rol de amigos perplexo
a ideia de melhorar cada vez mais era a força motriz da sua vivência
antigamente era paixão agora tomou contornos de dependência 
a sua mãe faleceu entretanto fazendo-o aumentar ainda mais a reclusão
dentro do seu cubículo onde tudo tinha inicio mas não tinha conclusão
desnutrido de nutrientes e proteínas, alimentava-se de literatura
comia só o essencial e devorava livros e artigos para poder estar à altura



Passados 4 meses...


Muito débil e vulnerável a doenças
sem ninguém ao lado para o defender das suas desavenças
com o destino que lhe era vadio e libertino
onde ele só queria cumprir o seu sonho de menino
nas semanas posteriores o estado de saúde foi-se deteriorando 
cada vez mais fraco e pálido, o seu hipotálamo foi piorando
os versos já não saiam tão fluídos como outrora
o vírus vai-se alastrando quando a ajuda demora
às 2:03 da madrugada foi encontrado deitado na cama
sem pulso, sem cor, lívido e sem expressão, sem alma
totalmente esgotado, tinha usado todas as forças na arte
foi-lhe fatal a sua mania sórdida de ser por à parte
o seu nome foi carimbado em escritos em série
mas o seu corpo foi levado pelo diabo para a intempérie 
agora só resta aos amigos o seu legado 
carinhosamente por si com minúcia delegado
para ser expandido e divulgado aos sete ventos
nas maiores feiras ou nos mais culturais eventos
na frase mais assustadora ou na metáfora mais bonita
o que transparece em realce neste poema é o amor à escrita!

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